No Brasil, muitas fazendas foram abertas no cerrado, deixando árvores de modo aleatório nas pastagens. As aberturas na Mata Atlântica e na região Amazônica não ocorreram da mesma forma. A derrubada das florestas e as queimadas eliminaram a maior parte das árvores. As árvores do Cerrado possuem resistência natural ao fogo e a abertura, na maior parte, foi feita de forma mecânica com tratores de esteira. Por isso, se vê mais árvores nas pastagens mais antigas do cerrado. Com a entrada da agricultura no cerrado, foram retiradas as poucas árvores deixadas nas pastagens. Para realizar a arborização das pastagens, o primeiro passo é definir o objetivo para tal ação. Para isso, é preciso avaliar:
- Bem-estar animal
Para garantir o bem-estar animal, poucas árvores já são suficientes, porém, é preciso atenção na escolha das espécies. Para isso, escolha árvores de porte médio e de crescimento vertical, plantadas próximas às aguadas e malhadores. Árvores que crescem muito podem atrair raios, cair e atingir os animais. Já árvores com copa grande podem ser muito confortáveis na época da seca, porém, podem acumular barro, parasitas e doenças embaixo de suas copas na época das chuvas. Atenção também ao excesso de fezes e urina dos animais que podem matar essas árvores. Uma boa medida a ser adotada é cercar essas árvores para que isso não aconteça e os animais não tentem comer suas cascas, o que pode ocasionar a morte das árvores. Outro ponto importante é observar se as espécies de árvores escolhidas não possuem efeitos tóxicos para os bovinos. O Tamboril, por exemplo, produz sementes que podem fazer vacas abortarem e até levar à morte.
Lembre-se também de escolher espécies que mantêm as folhas o ano todo. Árvores deiscentes, que perdem as folhas no inverno, podem não servir ao objetivo no final da seca quando começa a esquentar.
➧ Mesmo a raça Nelore que é adaptada a grandes insolações, procura a sombra das árvores nas horas mais quentes do dia.
Veja a configurações de sombras de árvores em pastagens
A partir desses conhecimentos é importante definir a densidade e arquitetura de plantio. Linhas em curva de nível são importantes, mas algumas vezes sombreiam a pastagem durante importantes horas de insolação. A orientação leste-oeste é a mais recomendada quando não houver problemas de erosão.
- Intensificação do uso do solo
Na produção de sistemas silvipastoris com árvores e pastagens, as pastagens serão utilizadas para produção pecuária e as árvores serão colhidas quando atingirem o ponto comercial.
Com isso, há uma diminuição na capacidade de suporte das pastagens à medida que as árvores crescem sombreando o capim. Neste caso, a quantidade de árvores plantadas é menor do que no sistema tradicional de silvicultura, no entanto, o maior espaçamento entre as linhas permite maior engrossamento dos caules das árvores.
O manejo das pastagens também tem que ser diferente daqueles feitos em sistemas pastoris. O capim tem que ser manejado mais alto, pois há um alongamento das hastes e folhas para aumentar a captação de luz solar. Por outro lado, há uma diminuição na densidade dos estandes e na proporção de raízes. Aqui, é necessário trabalhar com uma quantidade menor de animais e com maior altura das pastagens.
O capim pode ser ensilado ou fenado para venda.
Árvores frutíferas também podem ser integradas com pastagens.
- Ciclagem de nutrientes e água
A integração entre árvores e pastagens podem visar a ciclagem de nutrientes e água no solo.
As árvores funcionam como bombas de água para atmosfera, retirando a água do solo durante o dia e, retornando parte durante a noite. Por isso, se vê capins mais verdes abaixo de algumas árvores.
Esse sistema possui uma curiosidade: as árvores Sucupiras Brancas possuem uma singularidade chamada heliotropismo. Os folíolos (pequenas folhas em cachos) mudam a direção quando em luminosidade intensa (ficam mais verticais), permitindo a entrada de luz pela copa da árvore, favorecendo a gramínea no extrato abaixo.
Sistemas Integrados Agroflorestais são complexos pois envolvem competição entre diferentes espécies por água, nutrientes e insolação. Sinergia, ‘simbiose’ e equilíbrio ocorrem na natureza em sistemas antigos por seleção natural. A tentativa da ciência em integrar gramíneas, leguminosas produtoras de grãos, árvores e animais é relativamente nova e ao mesmo tempo complexa. Esperamos que, os pontos levantados neste artigo, possam ajudar na definição das suas estratégias e lembre-se sempre de solicitar o apoio de um consultor especializado.
Texto por: Rodrigo Mendonça